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quinta, 22 de março de 2018 - 19:54h
Bombeiras militares evidenciam conquistas e desafios no exercício da função
Diversos temas da vida militar e civil foram abordados em evento inédito que reuniu a corporação feminina, em Macapá.
Por:
Foto: Irineu Ribeiro/Secom
Primeiro dia do evento ocorreu no auditório do Sebrae, em Macapá

O Corpo de Bombeiros Militar do Amapá (CBM/AP) possui uma particularidade em relação às demais corporações de outros estados. Com 32% do efetivo formado por mulheres, a instituição amapaense se destaca pela presença feminina e sai na frente com a realização do I Encontro de Bombeiras Militar do Amapá. Iniciado nesta quinta-feira, 22, em Macapá, o evento reuniu a corporação feminina para tratar dos desafios no exercício da função e compor as demandas do Comitê Nacional de Bombeiras Militares. O encontro de bombeiras evidenciou algumas conquistas, tendo a corporação predominantemente masculina, que se adequar à chegada das mulheres.

O papel da mulher dentro da corporação foi abordado por duas pioneiras: a tenente-coronel amapaense Márcia Cristiane Corrêa, primeiro oficial combatente do Estado e, a coronel CBM de Roraima, Vanisia Santos, oficial mais antiga do país.

A quebra de paradigma, o preconceito, as experiências e dificuldades de quem encarou a dura missão de abrir o caminho para que outras pudessem ingressar na corporação, foram os destaques das palestras.

Ingresso de mulheres na corporação

A militar amapaense Márcia Cristiane lembrou que 1995 foi o ano de ingresso das mulheres na corporação. Foi quando o Estado abriu vaga para que três mulheres pudessem ingressar no quadro de oficial do CBM/AP, onde só ela alcançou o êxito.

Márcia Cristiane conta que os desafios começaram já no teste de avaliação física. A militar lembra que, na época, os testes foram acompanhados de perto por um oficial que tentava desmotivá-la. “Ele dizia: ‘vamos quero ver. Essa prova aqui, até minha vó consegue fazer’. Da minha parte, aquilo era um incentivo a mais. Mentalmente dizia: ‘eu vou conseguir, sou eu contra eu mesma’”, recordou.

Após o curso realizado em Brasília, única academia no Brasil que recebia mulheres, a tenente-coronel retornou ao Amapá em 1998, sendo a primeira oficial combatente formada em engenheira de segurança em incêndio. “Quando retornei, encontrei outras mulheres que haviam ingressado na primeira turma de soldados do concurso realizado, em 1994”, discorreu.

A instituição - onde predominava o gênero masculino - teve que se adaptar à chegada da mulher no quartel, como questões de alojamento e fardamento, além das normas que tiveram que ser criadas com o passar dos anos.

Comandar uma tropa, antes tarefa executada somente por homens, foi outro grande desafio. “Cheguei formada com 23 anos e lembro de um companheiro que me olhou e disse: ‘Nossa! Como o mundo está. Eu vou ser comandado por essa moça que tem idade para ser minha filha’”, contou Márcia Cristiane.

A oficial se destaca como sendo a única mulher na linha de sucessão para o Comando-geral do CBM/AP. “No curso de formação, somos formados para comandar homens e mulheres. E se um dia isso acontecer, estarei pronta para exercer a função”, ressaltou a militar.

Desafios de uma bombeiro militar feminino

Provar que uma mulher era capaz de executar as mesmas tarefas realizadas por homens, foi o grande desafio que a coronel Vanisia Santos, de Roraima, que preside o Comitê Nacional de Bombeiras Militares, enfrentou quando entrou na corporação de seu estado. Ela registra que o preconceito ainda existe, mas de forma diferente da época que ingressou no CBM/RR.

A abertura para o ingresso de mulheres nas corporações também é um desafio para outros estados. Vanisia destaca que o Amapá está avançado neste quesito em comparação a estados, como o Rio Grande do Norte, onde apenas três mulheres integram a corporação. Essa disparidade, segundo ela, se dá por que cada unidade da federação estipula, nos editais de concursos, um número pequeno para mulheres em relação aos homens.

“No Amapá, por exemplo, o concurso para bombeiros prevê ampla concorrência. Já em Roraima, eram destinados 10% das vagas para mulheres, este número aumentou para 15% no último concurso”, exemplificou a militar.

Sobre a atuação no Comitê Nacional de Bombeiras Militares, Vanisia Santos explica que a falta de estrutura para as mulheres, como equipamentos individuais femininos, são alguns dos grandes problemas enfrentados no momento.

O trabalho do comitê junto aos comandantes-gerais, busca garantir condições para que as militares desenvolvam suas funções com os equipamentos adequados. “Quando uma militar entra no combate ao incêndio, utiliza o equipamento de proteção respiratório, idealizado para homens. Naturalmente, este aparelho ocasiona um sobrepeso na mulher, de aproximadamente 23 kg. Outra dificuldade é quanto à bota, que só são fabricadas para tamanhos acima de 36. Ela poderia ser também adequada para o tamanho 34”, evidenciou Vanisia.

O trabalho do comitê não se restringe apenas à atuação de pleitos das mulheres nas corporações. A coronel informou que está sendo feito um trabalho com as empresas que fornecem equipamentos, para se adequarem às necessidades das mulheres a fim de que forneçam os materiais no modelo feminino.

“Hoje no Brasil, a maior dificuldade que os comandantes enfrentam é na aquisição destes equipamentos. Muitas empresas não fornecem, e o comitê tem conversado diretamente com elas para que possam se adequar e fornecer os equipamentos necessários”, frisou a coronel.

Referência

Para Vanisia Santos, o Amapá deu um importante passo com a realização do I Encontro de Bombeiras Militar. A maciça participação das mulheres que vieram de outros municípios e, até as que estão de licença maternidade, chamou a atenção da oficial, que acredita que as mulheres amapaenses terão grandes conquistas depois deste evento.

“O mais importante é que a instituição sabe que tem um público diferenciado e que precisa sentar com essas pessoas, ouvi-las e tomar decisões nas demandas que, às vezes, não são tomadas, porque não chegam até o gestor. E um encontro como este, tem esse papel de ser o porta-voz das necessidades e dos anseios das mulheres”, considerou a presidente do Comitê Nacional de Bombeiras Militares.

Palestras sobre saúde da mulher também foram ministradas no primeiro dia do evento, além de temas como a violência contra mulher, assédio moral e sexual. A programação encerra nesta sexta-feira, 23, com a competição operacional Bombeira de Garra Tucuju, que terá a participação de várias equipes formadas, exclusivamente, por mulheres no Comando-Geral dos Bombeiros.

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Créditos:

Irineu Ribeiro/Secom

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