Um prédio de 27 andares, essa é a altura média das árvores gigantes encontradas entre os estados do Amapá e Pará nos últimos 3 anos. Esta semana, uma expedição foi realizada para mapear um novo local com a presença de indivíduos gigantes da espécie Dinizia excelsa Ducke, o angelim-vermelho.
Participaram desta etapa do projeto, pesquisadores de instituições do Amapá, Minas Gerais e do Reino Unido. A nova área das árvores está localizada na região do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) do Maracá, no município de Mazagão.
A partir dos dados obtidos nesta 4ª expedição, o angelim se consolida como a espécie das maiores árvores já registradas na Amazônia. A árvore visitada esta semana mede 83 metros de altura por 7,10 metros de circunferência. Para se ter uma ideia, a média de altura das árvores amazônicas é de 40 a 50 metros.
O professor Robson Borges, do curso de engenharia florestal da Universidade do Estado do Amapá (Ueap), participa do projeto de monitoramento das árvores e explica o trabalho que é realizado em torno das “gigantes”.
“As atividades de inventário florestal consistem em coletar informações das árvores dentro de uma unidade amostral ou parcela. A unidade amostral que utilizamos segue o mesmo padrão do inventário florestal nacional aplicado pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB). O objetivo do nosso inventário é determinar as principais informações quali e quantitativas da área de ocorrência das árvores gigantes, incluindo a estrutura da vegetação e diversidade florística. Os dados de diâmetro e altura coletados poderão ser usados para estimar o potencial de estoque de carbono da vegetação”, explica Borges.
Desde a primeira expedição, realizada em 2019, vários pesquisadores internacionais integrantes do grupo de pesquisa do Prof. Eric Gorgens (UFVJM) visitam o estado para estudar os angelins. Nesta semana, a geógrafa Jackie Rosette, pesquisadora da Swansea University, no Reino Unido, utilizou pela primeira vez no Brasil um equipamento que realiza o mapeamento tridimensional da floresta, a partir do solo.
“Estou tento aqui no Amapá a oportunidade de ver como é o desempenho da tecnologia lidar no monitoramento dessas grandes árvores que se sobressaem no dossel. Eu trouxe um laser manual que lança pulsos para a floresta, medindo a posição do solo, das árvores, das folhas e de toda a estrutura florestal. A expectativa é que o equipamento tenha energia suficiente para mapear essa estrutura das árvores mais altas, já que é a primeira vez que utilizo o equipamento em uma floresta tropical”, destaca a pesquisadora britânica.
A realização das 3 últimas expedições foi financiada com recursos do Fundo Iratapuru. Além das expedições, o projeto realizou uma série de capacitações junto à comunidade de São Francisco do Iratapuru, no município de Laranjal do Jari, que também auxiliam os pesquisadores na logística das viagens.
A descoberta
A descoberta das árvores gigantes ocorreu a partir de uma pesquisa realizada entre 2017 e 2018 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) com a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Na ocasião, cientistas utilizaram informações obtidas por um sensor aeroembarcado de aproximadamente mil transectos espalhados por toda a Amazônia, para criar um mapa da biomassa amazônica. A partir dos resultados foram constatadas diversas áreas na vegetação com alturas jamais vistas em estudos anteriores. Surgiu então a idealização das expedições para comprovar e validar os dados.
Base de Ecologia Tropical
O grupo de pesquisadores tem trabalhado para consolidar uma Base de Ecologia Tropical, tendo a comunidade de São Francisco do Iratapuru como pilar central na estruturação das atividades. A base irá atrair e potencializar o desenvolvimento de mais pesquisas científicas na região, assegurando logística e apoio para pesquisadores de todo o mundo.
O pesquisador da UFVJM, Prof. Eric Gorgens, coordenador do projeto que descobriu as árvores, explica a importância do projeto para atrair e receber pesquisadores nacionais e internacionais na região.
“A região do Rio Jari possui características singulares, não encontradas em nenhum outro ponto da Amazônia. Nosso grande desafio hoje é assegurar e ampliar os esforços de pesquisas na região. Estamos discutindo com várias instituições do Amapá a consolidação desse esforço por meio da criação desta base de estudos em ecologia tropical. A partir dessa base, seria possível oferecer condições para que as pesquisas sejam desenvolvidas, como apoio logístico, instalação e manutenção de equipamentos, alimentação e acomodação de estudantes e pesquisadores, por exemplo”, explica Gorgens.
Instituições participantes
Universidade do Estado do Amapá – UEAP
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá - IFAP
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM
Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia do Amapá - Setec
Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá - Rurap
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Amapá
Promotoria do Meio Ambiente do Amapá
Fundação Jari
Swansea University