Uma tradição repleta de fervor religioso com um ritmo contagiante que se tornou o elo que une gerações há 149 anos. A Festividade de Nossa Senhora da Piedade, realizada no Distrito do Igarapé do Lago, localizado a 90 quilômetros de Macapá, chegou neste sábado, 08, no ponto alto das comemorações, que iniciaram no dia 27 de junho.

O sol raiou no pequeno Distrito que é ligado ao município de Santana com o badalar dos sinos da pequena Capela do Divino Espírito Santo. A comunidade pacata, formada por um pouco mais de 800 habitantes, estava mobilizada em torno do Batuque da Piedade.

O governador Waldez Góes, o prefeito de Santana Ofirney Sadala; os deputados federais Roberto Góes e Marcos Reátegui; o deputado estadual Jory Oeiras, e a comitiva de técnicos do governo acompanharam a programação que iniciou com a santa missa em homenagem a Nossa Senhora da Piedade.

Após a celebração, a programação prossegue com a Procissão da Meia Lua. A comissão organizadora segue na frente. O porta-bandeira leva o estandarte onde está pintada a imagem de Nossa Senhora com seu filho ao colo, em seguida, a guardiã carrega a imagem da Santa entre o mantenedor e o fiel com a cruz branca, símbolo da fé cristã. E os fiéis acompanham a comitiva entoando a folia ao ritmo de tambores e ganzás.

Em seguida, todos embarcaram na Procissão Fluvial onde, em um cenário de beleza única, as embarcações seguiram pelas margens do igarapé do Distrito. Os fogos anunciaram o ápice da festividade e as famílias, na beira do igarapé, saudaram Nossa Senhora.

“É uma festa belíssima que faço questão de participar pelo seu contexto histórico e a fortíssima essência cultural. Aproveitei para dialogar com a comunidade e traçar um planejamento para os 150 anos da festividade que será em 2018, além de discutir outras prioridades do distrito”, compartilhou o governador Waldez Góes.

Diálogo com a comunidade

Após rápida reunião no Distrito ficou agendada para o próximo dia 17 de julho, uma reunião em Macapá, entre o governador Waldez e o prefeito de Santana, com líderes da comunidade para discutir o planejamento da festividade, além de algumas reivindicações dos moradores relacionadas à água, luz e o estudo de uma possível parceria do governo na finalização de algumas unidades habitacionais que foram construídas na comunidade, mas, precisam da instalação das redes de água e luz para serem entregues.

Igarapé do Lago e a Festividade

A comunidade surgiu com a libertação dos escravos, em 1888. Anteriormente, na região, existia o sítio de Joana Barreto, poderosa posseira e detentora de escravos. Com a abolição da escravatura, os libertos se mantiveram na região e construíram suas casas em frente ao sítio, na parte elevada. Para sua sobrevivência, os ex-escravos organizaram suas roças de mandioca, milhos e café, juntamente com a criação de gado, além da caça e da pesca.

A festividade na região do Igarapé do Lago remonta ao início do século passado. Belmiro Macedo Medina foi quem, durante os primeiros cinquenta anos, organizou e liderou os festejos, chegando ele mesmo a confeccionar os tambores que até hoje são usados durante as cerimônias. Mas é Dona Zezinha, uma das “Escravas devotas de Nossa Senhora” quem expõe a mitologia que deu origem à festa.